JUSTIFICADOS
Os cristãos estão acostumados a pensar que a “salvação” vem pela fé, especialmente
em oposição às obras. A JUSTIFICAÇÃO é um ato de Deus pelo qual ele declara o
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pecador eleito como sendo justo sobre a base da justiça de Cristo. Visto que a
justificação se refere à tal justiça sendo legalmente creditada ao eleito, e assim,
precede muitos dos outros itens na aplicação da redenção, num certo sentido, não
incorre em erro quem diz que a fé leva aos itens subseqüentes na ordem da salvação,
para a qual a justificação é uma pré-condição. Por exemplo, Atos 26.18 diz que os
eleitos são “santificados pela fé ”.
Entretanto, a regeneração precede tanto a fé como a justificação, e nunca é dito que
ela segue ou resulta da fé, nem que deve sempre ser confundida com a justificação. É
a regeneração que leva à fé, e é a fé que leva à nossa justificação.
Em outras palavras, tendo escolhido certos indivíduos para serem salvos, Deus enviou
Cristo para morrer por eles e, assim, pagar pelos seus pecados. No devido tempo,
Deus altera a disposição pecaminosa deles para uma outra que se deleita em sua
vontade e suas leis. Como resultado, esses indivíduos respondem ao evangelho em fé,
o que, por seu turno, leva à uma declaração legal da parte de Deus de que eles foram
feitos justos aos seus olhos.
Portanto, a fé é nossa resposta divinamente capacitada ao chamado eficaz de Deus, e a
justificação é a sua resposta à nossa fé, a qual, antes de tudo, veio dele. Paulo escreve
que todos aqueles que são predestinados por ele são também chamados, e visto que o
chamado é um chamado eficaz, todos que são chamados dessa maneira também
respondem em fé, e são, portanto, justificados (Romanos 8.30).
A Escritura afirma que a justificação vem pela fé, e não pelas obras. Exemplos de
passagens em apoio disso incluem as seguintes:
Abrão creu no SENHOR, e isso lhe foi creditado como justiça. (Gênesis 15.6)
Por meio dele, todo aquele que crê é justificado de todas as coisas das quais
não podiam ser justificados pela Lei de Moisés. (Atos 13.39)
Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência
à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do
pecado. Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus,
independente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus
mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois
todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados
gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus...
Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da
obediência à Lei. (Romanos 3.20-24, 28)
Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas
como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus, que
justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça. (Romanos 4.4-5)
Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual
agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
(Romanos 5.1,2)
Sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em
Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos
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justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da
Lei ninguém será justificado. (Gálatas 2.16)
Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela
fé. (Gálatas 3.24)
À luz da ênfase bíblica sobre a justificação pela fé somente, especialmente nos
escritos de Paulo, alguns crentes ficam confusos com certos dos versículos de Tiago 2.
Por exemplo, o versículo 24 diz: “Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e
não apenas pela fé”. Mas a dificuldade desaparece quando observamos como o termo
é usado e quando prestamos atenção ao contexto.
Observe que estamos discutindo como uma palavra está sendo usada por dois
escritores bíblicos diferentes. Embora possamos estar certos de que todos os escritores
da Escritura concordam em teologia, eles nem sempre usam as mesmas palavras para
expressar os mesmos conceitos, e nem sempre utilizam as mesmas palavras com
exatamente o mesmo significado ou ênfase. Por exemplo, embora João não use a
palavra “justificação”, seus escritos ensinam que alguém é salvo pela fé somente tão
fortemente quanto os escritos de Paulo. 40 Listaremos somente alguns exemplos aqui:
Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não
crer no nome do Filho Unigênito de Deus. (João 3.18)
Então lhe perguntaram: “O que precisamos fazer para realizar as obras que
Deus requer?” Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele
enviou”. (João 6.28,29)
Mas ele continuou: “Vocês são daqui de baixo; eu sou lá de cima. Vocês são
deste mundo; eu não sou deste mundo. Eu lhes disse que vocês morrerão em
seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus
pecados”. (João 8.23,24)
Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. (João 20.31)
Com o entendimento de que a mesma palavra pode ser usada com significados
diferentes por escritores bíblicos diferentes, podemos aceitar a seguinte explicação de
Robert Reymond:
Enquanto Paulo pretende dizer por “justificado” o ato real da parte de Deus,
pelo qual ele perdoa e imputa justiça ao ímpio, para Tiago “justificado”
significa o veredicto que Deus declara quando o realmente (anteriormente)
justificado demonstra seu real estado de justiça pela obediência e boas obras...
Ao passo que Paulo, quando repudia as “obras”, está se referindo às obras da
lei, isto é, toda e qualquer obra, de qualquer espécie, feita com objetivo de
adquirir mérito, Tiago tenciona com “obras” se referir a atos de bondade para
com aqueles em necessidade, realizados como o fruto e a evidência do real
estado de justificado e de uma fé verdadeira e vital (Tiago 2.14-17)...
E enquanto Paulo cria, de todo coração, que os homens são justificados pela fé
somente, ele insiste tão fortemente quanto Tiago que tal fé, se sozinha, não é
verdadeira, mas é uma fé morta: “Porque em Cristo Jesus nem circuncisão
nem incircuncisão significam alguma coisa. [O que conta] é a fé que opera
através do amor” (Gálatas 5.6), o que apenas difere em significado da
expressão de Tiago: “a fé como as obras estavam atuando juntas com as obras
[de Abraão], e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (Tiago 2.22). Paulo também
fala da “obra da fé” do cristão (1 Tessalonicenses 1.3). E no mesmo contexto
onde ele afirma que somos salvos pela graça através da fé, e “não por obras”,
Paulo pode declarar que fomos “criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Efésios 2.8-10).
Resumindo, enquanto para Tiago “a fé sem obras é morta”, para Paulo “a fé
que opera através do amor” é inevitável, se ela for uma fé verdadeira. 41
Paulo queria mostrar que a justificação, no sentido da declaração legal inicial de
justiça da parte de Deus, vem somente pela fé na obra de Cristo, mas Tiago estava
mais preocupado em mostrar que se tal fé não resulta num estilo de vida justo, então,
antes de tudo, essa fé não é uma fé verdadeira, e a declaração legal de justiça da parte
divina nunca aconteceu, de forma alguma. Visto que alguém não é salvo pelas boas
obras, mas para as boas obras (Efésios 2.10), uma pessoa não necessita produzir boas
obras para ser salva, mas se ela não produz boas obras após ela alegar ser salva, então
ela nunca foi salva.
Assim, Tiago não nega que a justiça legal venha pela fé somente – o que não está sob
consideração – mas ele queria desafiar seus leitores a demonstrarem que a fé deles era
genuína: “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras”
(Tiago 2.18). Sua ênfase não era sobre como alguém obtém justiça legal, mas sobre
como alguém que reivindica ter alcançado tal justificação deveria se comportar: “A
religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos
e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tiago
1.27).
A natureza legal da justificação significa que a justiça creditada aos eleitos é uma
JUSTIÇA IMPUTADA antes do que uma JUSTIÇA INFUNDIDA. Deus enviou
Cristo para pagar pelos pecados dos eleitos, então lhes concede fé como o meio pelo
qual credita legalmente a justiça positiva de Cristo a eles. A justiça concedida aos
eleitos não é, desse modo, aquela que tenha sido adquirida ou produzida por eles
mesmos, mas a que foi gerada por Cristo e lhes dada como um dom. Logo, quando
afirmamos que a justificação é pela fé somente, estamos, na verdade, afirmando que a
justificação não é pelos nossos próprios esforços, os quais nunca poderiam adquirir
justificação, mas que a nossa justificação é por Cristo somente, que adquiriu
justificação para nós.
Visto que a justificação envolve uma declaração legal, ela é um ato instantâneo.
Alguém está justificado ou não-justificado; ninguém se torna justificado
gradualmente, mas é declarado justo instantaneamente quando crê no evangelho.
Portanto, o conceito de justificação exclui o processo pelo qual o crente cresce em
conhecimento e santidade, que é parte da santificação.
Os cristãos que afirmam a justificação pela fé somente, todavia, freqüentemente
confundem justiça imputada com justiça infundida. A justificação é uma justiça
imputada, e a santificação é uma justiça infundida. A justificação é uma declaração
instantânea de justiça, mas a santificação se refere ao crescimento espiritual do crente
após ele ter sido justificado por Deus.
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