A NATUREZA DO HOMEM
De acordo com a Bíblia, Deus criou o homem à sua imagem: “Criou Deus o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou” (Gênesis 1.27). Seja o que for que imagem
de Deus signifique, ela não pode se referir a alguma coisa que ele próprio não possua.
Visto que foi provado que Deus é incorpóreo, a imagem não deve, portanto, estar
relacionada com o corpo do homem.
Todavia, visto que há aqueles que afirmam outra coisa, devemos tomar algum tempo
para tratar com o assunto aqui. Devemos abordar a questão perguntando de que modo
o homem é semelhança a Deus, e o que constitui o seu ponto de contato com Deus.
Devemos considerar também em que sentido o homem é superior aos animais.
Se a imagem de Deus é vista no corpo do homem, então se pode defender que alguns
animais também foram criados à imagem de Deus, visto que as diferenças físicas
entre o homem e alguns animais não são tão vastas a ponto de dizer que um foi criado
à imagem de Deus e o outro não — ou seja, se a imagem inclui as aparências físicas
do homem. 6 Mas isso é inaceitável, visto que a Escritura nos diz que o que distingue
o homem dos animais é precisamente a imagem de Deus. Portanto, essa não pode se
referir ao corpo do homem ou à sua aparência, mas a algo mais.
Deuteronômio 4.15-18 diz que Deus não tem “forma alguma” e, portanto, é proibido
fazer qualquer ídolo ou imagem para representar a deus, mesmo que seja na aparência
de um ser humano:
No dia em que o SENHOR lhes falou do meio do fogo em Horebe, vocês não
viram forma alguma. Portanto, tenham muito cuidado, para que não se
corrompam fazendo para si um ídolo, uma imagem de alguma forma
semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra, a qualquer ave
que voa no céu, a qualquer criatura que se move rente ao chão ou a qualquer
peixe que vive nas águas debaixo da terra.
Apenas essa passagem já é suficiente para provar que qualquer substância com uma
forma ou aparência não pode ser a imagem de Deus. Visto que ele próprio não tem
“forma alguma”, o corpo físico ou a aparência do homem não podem ser a imagem de
Deus; eles não podem ser nem mesmo uma parte dela.
Uma análise do registro bíblico exige que a imagem de Deus seja definida em termos
do intelecto. Embora o homem tenha a vantagem de ser um primata bípede ereto que
possui dedos opostos, os corpos de muitos animais são superiores ao do homem de
várias formas. Contudo, nenhum dos animais pode se comparar ao homem em
capacidades intelectuais.
Que Deus fez o homem à sua própria imagem significa que esse é uma mente
racional. Muitos animais correm mais rapidamente que o homem, muitos são mais
fortes, e alguns podem até voar, mas nenhum pode entender silogismos dedutivos ou
resolver equações algébricas. Os animais algumas vezes parecem realizar tarefas que
requerem pensamento ou desígnio racional, tal como construir ninhos elaborados.
Mas após uma observação adicional, descobrimos que a criatividade e capacidades
deles de adaptar são limitadas, e que são capazes de realizar essas tarefas somente por
instinto, e não através de pensamento deliberado e racional. Mais importante, nenhum
animal pode realizar reflexões teológicas.
A mente racional do homem é a semelhança de Deus e seu ponto de contato com ele.
As qualidades intelectuais do homem são evidentes desde o princípio de Gênesis.
Deus o abençoou em Gênesis 1.28-30, dando-lhe domínio sobre a natureza por um
pronunciamento verbal. Adão cuidou de Eva, não por instinto, mas em obediência às
instruções verbais de Deus. Ele deu ao homem um mandamento moral em Gênesis
2.16, proibindo-o de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas
permitindo que comesse de todas as outras. O homem foi advertido de que violar tal
mandamento resultaria em sua morte. Somente uma mente racional poderia entender
conceitos tais como dever, pecado e morte.
A Bíblia explicitamente distingue homem de animais sobre a base de seus poderes
intelectuais:
Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas
narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente... Mas é o
espírito dentro do homem que lhe dá entendimento; o sopro do Todo-poderoso
(Gênesis 2.7, Jó 32.8).
[Deus] nos ensina mais que aos animais da terra e nos faz mais sábios que as
aves dos céus (Jó 35:11).
Isso porque Deus não lhe deu sabedoria [aos avestruzes] nem parcela alguma
de bom senso (Jó 39:17).
Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento mas precisam
ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem (Salmos
32:9).
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“O novo [homem]... está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu
Criador” (Colossenses 3:10).
É impossível negar a conclusão que a imagem divina é a mente racional do homem,
mas alguns tentam adicionar outros elementos a essa definição, tais como a
moralidade do homem e o seu domínio sobre a natureza. Embora isso seja consistente
com nossa posição (Efésios 4.24), devemos sustentar que a racionalidade permanece o
elemento básico na definição da imagem de Deus no homem.
O homem tem uma natureza moral que o distingue dos animais e, assim, parece para
alguns que deveríamos incluir isso como parte da imagem de Deus, embora a
racionalidade possa ser um elemento. Ora, até mesmo animais e objetos inanimados
“obedecem” aos mandamentos de Deus, mas ao invés de fazê-lo por uma mente
racional, eles são compelidos pelo poder de Deus. Mas, visto que o homem tem uma
mente racional, ele escolhe obedecer a Deus através do intelecto, e ele peca ao
desafiar os mandamentos divinos. O homem pode compreender os conceitos de bem e
mal, e pode discuti-los através do uso de linguagem. Isso significa que o homem é
moral precisamente porque ele é racional; a moralidade é uma função da
racionalidade. Portanto, embora possamos reconhecer que ter uma natureza moral é
parte do que significa ser um ser humano, não é necessário incluí-la como parte de
nossa definição para a imagem de Deus.
O domínio do homem sobre os animais também é uma extensão ou resultado de sua
superioridade intelectual (Gênesis 1.28-30), e não deve ser confundida com parte da
imagem de Deus. Tiago escreve: “Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas
do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana” (Tiago 3:7). Embora o
homem seja fisicamente mais fraco do que muitos animais, seu entendimento e
conhecimento o capacitam a inventar métodos, ferramentas e armas para domá-los e
explorá-los. O domínio do homem sobre a natureza torna-se possível por suas
faculdades intelectuais, e não por qualquer poder sobrenatural ou místico dados por
Deus.
O forte interesse nos direitos dos animais e no vegetarianismo justificará uma breve
digressão nesse ponto. A Escritura ensina que os seres humanos são de mais valor do
que os animais e que podem comê-los para se alimentar:
Todos os animais da terra tremerão de medo diante de vocês: os animais
selvagens, as aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes
do mar; eles estão entregues em suas mãos. Tudo o que vive e se move servirá
de alimento para vocês. Assim como lhes dei os vegetais, agora lhes dou todas
as coisas (Gênesis 9.2-3).
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em
celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor
do que elas? (Mateus 6.26).
Ele lhes respondeu: “Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco
no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Quanto mais vale um homem do que
uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado” (Mateus 12.11-12).
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Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo;
vocês valem mais do que muitos pardais! (Lucas 12.7).
Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem
celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as
aves! (Lucas 12.24).
Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto ele estiver
debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado? (1
Coríntios 9.9).
O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e
seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos
vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada e
proíbem o casamento e o consumo de alimentos que Deus criou para serem
recebidos com ação de graças pelos que crêem e conhecem a verdade. Pois
tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com
ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração (1
Timóteo 4:1-5).
A prioridade do cristão sempre deve ser os seres humanos, não os animais. Dado o
que a Bíblia diz sobre o valor superior dos seres humanos, deveríamos reservar nossos
recursos de tal forma que ajude a causa de Cristo entre eles, até mesmo à custa do
conforto e das vidas dos animais. Muito do que é feito em nome dos direitos dos
animais rouba os recursos que deveriam ser devotados à ajuda da humanidade. Isso é
uma negação indireta de que o homem foi criado à imagem divina, que ele é especial
entre as criaturas de Deus e, portanto, é uma rejeição indireta da Escritura.
Quanto ao vegetarianismo, Deus concedeu ao homem permissão para consumir “tudo
o que vive e se move” (Gênesis 9.3). A Escritura declara que o homem não está
restrito a comer apenas vegetal: “Assim como lhes dei os vegetais, agora lhes dou
todas as coisas.” (v. 3). Portanto, abster-se de comer carne por razões espirituais ou
como um reconhecimento dos “direitos animais” afronta o ensino bíblico.
Embora os ativistas dos direitos animais estejam errados, isso não significa que o
homem pode abusar e torturar animais da forma como lhe agradar. A Escritura dá
instruções de como devemos tratá-los. 7 Por exemplo, animais deveriam se beneficiar
do descanso sabático, e deve ser permitido a eles que comam enquanto trabalham
(Deuteronômio 5.13-14, 25.4). Provérbios 12.10 diz: “O justo cuida bem dos seus
rebanhos”. Podemos concluir a partir de tais passagens que é errado torturar animais
por esporte ou causar-lhes sofrimento injustificado. Mas permanece o fato de que
somos livres para matá-los para comida, visto que a Escritura consente que isso seja
legítimo. Dada a tendência contemporânea para favorecer os animais, mesmo à custa
da humanidade, devemos nos esforçara para dar prioridade aos seres humanos quando
pensando sobre o tratamento de animais.
Deus sempre coloca a humanidade antes dos animais. Após citar o mandamento
bíblico que diz: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”,
Paulo adiciona, “Por acaso é com bois que Deus está preocupado?” (1 Coríntios 9.9).
Até mesmo tal mandamento sobre o tratamento dos animais tem o benefício da
humanidade e o justo tratamento do homem em vista: “Não é certamente por nossa
causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque ‘o lavrador quando
ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da
colheita’ ” (v. 10). Portanto, devemos dizer com Atos 10:13, onde Deus chama Pedro
o apóstolo, “Levante-se, Pedro; mate e coma”.
Retornando ao nosso tópico, alguns que admitem que a imagem de Deus é vista no
intelecto do homem, todavia, argumentam que, visto que o corpo é necessário para
expressar a mente racional de uma pessoa, quer em palavras ou em ações, ele deve ser
pelo menos uma parte da imagem de Deus. Contudo, a referência anterior a
Deuteronômio 4.15-18 já eliminou essa possibilidade; o corpo do homem não pode
ser nem mesmo uma parte da imagem de Deus. Além disso, o argumento confunde a
imagem de Deus com o equipamento requerido para expressá-la no mundo físico. A
mente pode certamente se ocupar numa comunicação racional com Deus sem o corpo;
podemos precisar do corpo apenas par interagir com o mundo físico. De fato, antes da
consumação da nossa salvação, “estar ausentes do corpo” é “habitar com o Senhor” (2
Coríntios 5.8). A Bíblia vê o corpo físico como muito importante, e o Novo
Testamento até diz que o corpo do crente é o tempo de Deus (2 Coríntios 6.16);
porém, o corpo não é parte da imagem de Deus.
Uma outra objeção contrária a igualar a imagem de Deus ao intelecto do homem é
fundamentada na visão de que o homem é uma TRICOTOMIA consistindo de
espírito, alma e corpo. Proponentes desse ponto de vista afirmam que a Bíblia retrata
o homem como uma tricotomia, e visto que “Deus é espírito” (João 4:24), a imagem
de Deus deve, portanto, ser o espírito do homem em oposição à sua alma ou corpo.
Isso sendo assim, a imagem de Deus não é o intelecto racional do homem, mas é uma
parte não-intelectual do homem chamada de “espírito”. O problema com essa visão é
que a Bíblia não endossa a tricotomia, mas ao invés disso, ela ensina que o homem é
uma DICOTOMIA consistindo de alma e corpo.
Embora os tricotomistas frequentemente citem Hebreus 4:12 em apoio à sua opinião,
uma leitura apropriada do versículo tornará a posição deles impossível. O versículo
diz: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois
gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os
pensamentos e intenções do coração”. Os tricotomistas declaram que, embora seja
difícil distinguir entre a alma e o espírito, esse versículo diz que elas podem ser
divididas pela palavra divina. Portanto, a alma e o espírito são duas partes diferentes
de uma pessoa.
Contudo, o versículo não diz que a palavra de Deus pode dividir a “alma, o espírito e
o corpo”, mas que ela pode dividir “alma e espírito, juntas e medulas”. Visto que
“juntas e medulas” pertencem ao corpo, ou a parte material do homem, a interpretação
natural é que “alma e espírito” também pertencem à mesma parte de uma pessoa, ou
seja, à parte imaterial do homem.
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Se X = alma, Y = espírito e Z = corpo, então o entendimento tricotomista desse
versículo fa-lo-á dizer: “dividindo X e Y, Z e Z”, o que geraria uma estupidez ao
versículo que está ausente na interpretação dicotomista. Dicotomistas compreendem
que a alma = espírito, e, portanto, X = Y. Assim, lemos o versículo assim, “dividindo
X e X, Z e Z”, o que preserva a simetria intencionada pelo autor bíblico.
Robert Reymond fornece um argumento gramatical sobre esse versículo, e escreve:
Aqui o tricotomista insiste, visto que a alma pode ser “dividida” do espírito,
fica evidente que elas são duas entidades ontológicas separadas e distintas.
Mas isso é ignorar o fato de que “alma” e “espírito” são ambos genitivos
governados pelo particípio “dividindo”. O versículo está dizendo que a Palavra
de Deus “divide” a alma, até mesmo o espírito. Mas ele não diz que a Palavra
de Deus divina faça divisão entre alma e espírito... ou que divida a alma do
espírito. 8
Além do mais, esse versículo, na realidade, não se refere a algum poder de dividir na
palavra de Deus, mas à sua habilidade de penetrar. Aquela é tão poderosa que alcança,
afeta e transforma até mesmo as regiões mais profundas da mente de uma pessoa —
isto é, “ela julga os pensamentos e intenções do coração” (v. 12). 9 O próximo
versículo confirma essa interpretação: “Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos
de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de
prestar contas”. O ponto é que nada sobre nós está escondido dele, nem mesmo nossos
pensamentos e intenções.
Um outro versículo que os tricotomistas usam para apoiar a sua posição é 1
Tessalonicenses 5:23, que diz: “Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente.
Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. É verdade que as três palavras traduzidas como
“espírito, alma e corpo” são palavras gregas diferentes. Alguns tomam esse versículo
como significando que Paulo está se referindo à preservação de Deus de “todo” ser
humano, que o apostolo afirma consistir de três partes: espírito, alma e corpo.
Contudo, Marcos 13:30 torna tal interpretação impossível. O versículo diz: “Ame o
Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu mente e
de todas as suas forças”. Ele menciona quatro itens com os quais devemos amar a
Deus, a saber, o coração, alma, entendimento* e força. Se 1 Tessalonicenses 5:23
demanda o entendimento que o homem consiste de três partes, então Marcos 13:30
demanda o entendimento que o homem consiste de quatro partes. Assim, o
argumento tricotomista a partir de 1 Tessalonicenses 5:23 fracassa.
Muitos versículos bíblicos empregam repetição para se enfatizar algo. O fato dos
versículos acima usarem palavras diferentes para se referir ao homem não significa
necessariamente que cada palavra designe uma parte diferente dele; antes, a intenção é
se referir à pessoa como um todo.
A pregação cristã popular freqüentemente assume uma distinção rígida entre o espírito
e a alma do homem, identificando o “coração” com o espírito, e a mente com a alma.
Contudo, o Exegetical Dictionary of the New Testament define “coração” (grego:
kardia) como “a pessoa interior, o centro do entendimento, conhecimento e
vontade...”. 10 Kittel contém um artigo extenso sobre a palavra, e diz: “o coração é o
centro do entendimento, a fonte do pensamento e da reflexão”. 11 Assim como outros
léxicos, ele confirma que “o uso neotestatmentário das palavras concorda com o do
Antigo Testamento...”. 12 A palavra “coração” na Bíblia inclui uma gama de
significados, mas a menos que ela aponta para o órgão físico, ela está falando da
mente, com o contexto da passagem dando ênfase às suas funções particulares.
Gordon Clark estima que “o termo coração denota emoção em aproximadamente dez
ou no máximo quinze por cento das vezes. Ela denota vontade talvez trinta por cento
das vezes; e ela significa mui claramente o intelecto em sessenta ou setenta por cento
[das vezes]”. 13 Visto que tanto emoção como vontade são funções do intelecto, ou da
mente, a menos que ela se refira ao órgão físico, a palavra “coração” na Bíblia
significa mente.
Tendo apresentado diversas páginas de passagens relevantes, Clark conclui:
“Portanto, quando alguém no banco da igreja ouvir o pregador estabelecendo
contraste entre a cabeça e o coração, ele perceberá que o pregador não conhece ou não
crê no que a Bíblia diz. Para que o evangelho possa ser proclamado em sua pureza e
poder, as igrejas devem eliminar o freudismo delas e outras formas de psicologia
contemporânea, e retornarem à Palavra de Deus...”. 14
É antibíblico distinguir entre “fé da cabeça” e “fé do coração” ou “conhecimento da
cabeça” e “conhecimento do coração”. Em primeiro lugar, a mente do homem não é
sua “cabeça” ou seu cérebro. A mente do homem é incorpórea, feita à imagem de
Deus; ela não é parte do corpo de forma alguma. Assim, fazer um contraste entre a
“cabeça” e o “coração” é cometer erro teológico em mais de um nível.
O tricotomista distingue entre o espírito e a alma, ou o coração e a mente, não a
cabeça, visto que a cabeça pertence ao corpo. Portanto, o contraste é entre fé no
espírito e fé na mente, ou conhecimento no espírito e conhecimento na mente.
Mas, visto que a tricotomia é falsa, tal contraste também é falso. Já que as palavras
espírito, alma, coração e mente se referem todas elas à mesma parte imaterial do
homem, fé no espírito é fé na mente, e conhecimento no espírito é conhecimento na
mente. Elas são apenas palavras diferentes para a mesma parte do homem. Isso
também significa que fé e conhecimento são sempre intelectuais.
Em A Treatise Concerning Religious Affections, Jonathan Edwards escreve com
respeito à inclinação e vontade do homem, que “a mente, com respeito aos exercícios
dessa faculdade, é frequentemente chamada de coração”. 15 Também, Thayer escreve:
“kardia…a alma ou a mente, com a fonte e centro dos pensamentos, paixões, desejos,
apetites, afeições, propósitos, esforços... é usada do entendimento, a faculdade e
centro da inteligência”. 16 O ponto é que o coração é intelectual.
Após uma extensa apresentação da evidência relevante, Robert Morey conclui em seu
Death and the Afterlife:
Na Escritura, é dado vários nomes diferentes à parte imaterial do homem. Ela é
chamada de “espírito”, “alma”, “mente, “coração”, “partes interiores” etc., do
homem. Os nomes não deveriam ser vistos como referindo à entidades
separadas, mas como descrições de diferentes funções ou relações que o lado
imaterial do homem tem... De fato, alma e espírito são usados
intercambiavelmente em várias passagens… 17
Portanto, um ser humano consiste de mente e corpo. Podemos considerar os termos
espírito, alma, coração e mente como geralmente intercambiáveis:
Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma.
Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no
inferno (Mateus 10:28).
Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que
contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus (2
Coríntios 7:1).
Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo depois
eliminado de seu corpo (Marcos 7:19).
Visto que muitos leitores tendem a pensar no espírito e no coração, ou até mesmo na
alma, como mais ou menos não-intelectual, eu freqüentemente prefiro a palavra
mente, de forma a lembrar o leitor que, não importa como ele a chame, a parte
imaterial do homem é intelectual em natureza. Palavras tais como espírito, alma,
coração e mente se referem à mesma parte imaterial e intelectual do homem.
Resumindo, a Bíblia ensina que o homem consiste de duas partes — a material e a
imaterial. “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se
corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Coríntios 4.16, ERC). O
homem é uma alma e um corpo. A alma entrou no homem quando Deus soprou vida
nele, e é esse sopro divino que lhe dá poderes intelectuais. Nossa conclusão é que a
imagem de Deus é o intelecto do homem; isto é, esse é feito à imagem e semelhança
divinas no sentido de que possui uma mente racional.
Gênesis 1.27 diz que Deus criou os seres humanos como macho e fêmea: “Criou Deus
o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”. Esse
versículo indica que ambos foram feitos à imagem de Deus, e ambos pertencem à
categoria de homem ou humanidade. O domínio que Deus deu ao homem pertence
tanto ao macho como à fêmea, visto que o versículo 28 diz: “Deus os abençoou, e lhes
disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela
terra’ ” (v. 28).
A implicação desses dois versículos é que um gênero não é intrinsecamente superior
ao outro. Contudo, embora o valor ontológico dos homens e das mulheres seja o
mesmo, Deus impôs uma estrutura de autoridade sobre eles para definir as suas
funções dentro da sociedade, especialmente na relação do casamento e no governo da
igreja. 18 Em conexão com isso, examinaremos diversas passagens relevantes abaixo.
Após a queda da humanidade, Deus diz à mulher: “Seu desejo será para o seu marido,
e ele a dominará” (Gênesis 3.16). Uma interpretação comum dessa declaração a
entende como dizendo que a mulher experimentará grande desejo sexual por seu
marido, ou pelo menos um desejo por sua companhia. Refletindo esse ponto de vista,
a Living Bible parafraseia o versículo assim: “Você desejará as afeições do seu
marido, e ele te dominará”. Mas essa interpretação não consegue relacionar a primeira
oração da frase com a segunda. Além disso, uma declaração similar aparece em
Gênesis 4.7, mas dessa vez ela é traduzida assim: “Ele deseja conquistá-lo, mas você
deve dominá-lo”. Portanto, um entendimento correto desse versículo seria lido assim:
“Seu desejo será dominar o seu marido, mas ele te governará”.
Alguns afirmam que o homem e a mulher tinham autoridade igual na relação do
casamento antes da Queda, e que somente após a humanidade transgredir a lei de
Deus é que foi dado ao homem o governo sobre a mulher como parte da maldição
sobre a humanidade. De acordo com essa opinião, a subordinação da mulher é apenas
um resultado do pecado, e ela tem sido negada após a morte e ressurreição de Cristo.
Entretanto, nem todos os efeitos da Queda foram eliminados após a ressurreição de
Cristo. Há algumas coisas que devem esperar a consumação da nossa salvação na
segunda vinda. Por exemplo, a doença e a morte se originaram por causa do pecado,
mas elas ainda estão em efeito hoje. Mas, se a obra de Cristo removeu todos os
resultados do pecado para esse estágio da história da humanidade, eles deveriam estar
agora completamente ausentes da sua experiência, pelo menos para o cristão.
Portanto, mesmo que a subordinação da mulher fosse resultado do pecado, não se
segue que ela tenha sido negada após a ressurreição de Cristo, a menos que a Bíblia
ensine explicitamente isso.
Mas, antes de tudo, a autoridade do homem sobre a mulher não se originou por causa
da Queda. Mesmo antes de Deus criar a mulher, ele disse que ela seria a “ajudadora”
do homem (Gênesis 2.18). Paulo ensina que a autoridade do homem sobre a mulher
não se originou por causa do pecado, mas que ela é uma ordenança da criação. Isto é,
pela natureza e ordem da criação do homem e da mulher, ele tem autoridade sobre
essa.
Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; além
disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do
homem (1 Coríntios 11.8-9).
A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a
mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em
silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva (1 Timóteo 2:11-
13).
É apenas de natureza que qualquer ordenança de Deus instituída por causa da própria
natureza da criação ainda esteja em efeito, enquanto formos seres humanos. 19
Além do que, tanto Paulo como Pedro escreveram aos crentes dizendo que as esposas
cristãs deveriam obedecer a seus maridos. Assim, a obra de Cristo e o ensino
apostólico não fizeram nada para abolir a estrutura de autoridade instituída por Deus
na criação, mas antes a reforçaram com uma lei moral absoluta.
Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e
seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem
bondosas e sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja
difamada (Tito 2.4-5).
Do mesmo modo, mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que,
se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de
sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês (1 Pedro 3.1-
2).
O argumento que diz que a obra redentora de Cristo removeu a “maldição” da
subordinação da mulher ao homem dentro do relacionamento do casamento é uma
posição anti-bíblica. A Bíblia ensina que o marido tem autoridade sobre a esposa na
criação do homem, após a queda do homem, e após a obra de Cristo.
Ao invés de ensinar que a subordinação das mulheres resultou do pecado, Gênesis
3.16 indica que o pecado produziu a usurpação delas da autoridade dos homens.
Mulheres cristãs se submeteram à liderança masculina em casa e na igreja é um sinal
de justiça e regeneração; contudo, a rejeição da liderança masculina em casa e na
igreja é uma manifestação de pecado e impiedade. Ao invés de abolir a liderança
masculina em casa e na igreja, a obra de Cristo restaurou e reforçou o desígnio divino
original.
Um aspecto importante do movimento e da teologia feministas é alterar ou abolir a
estrutura bíblica do relacionamento matrimonial e do governo da igreja. Em seus
esforços de promoverem uma “igualdade” anti-bíblica, as feministas têm facilitado a
erosão da unidade mais básica da sociedade, a família. Deus designou que o homem
deveria ser o cabeça da casa desde o princípio, mas o pecado produziu na mulher uma
desejo de usurpar a autoridade do marido, e a ser “libertada” do seu governo. Mas a
alegria e a esperança da humanidade dependem de conhecer e obedecer aos
mandamentos bíblicos, e não lutar contra eles. 20
A liderança do homem na família tem sido um tópico controverso, tanto dentro como
fora dos círculos teológicos. A razão para tanto debate não é porque a Escritura não é
clara sobre o assunto, mas antes porque o estado psicológico e ideológico dos dias de
hoje e a tendência pecaminosa dos seres humanos se ofendem com a autoridade
legítima. Como Keil & Delitzsch diz em relação a Gênesis 3.16, o desejo dentro da
mulher de desafiar a autoridade do homem é tal que está “beirando a doença”. 21
Nossa segunda passagem vem de 1 Pedro 3.1-6. Os versículos 1-4 dizem:
Do mesmo modo, mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que, se
ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua
mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês. A beleza de
vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de
ouro ou roupas finas. Ao contrário, esteja no ser interior, que não perece,
beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, o que é de grande valor
para Deus.
A passagem mostra que não somente as esposas devem se sujeitar aos seus maridos
cristãos, mas que devem ser submissas mesmo que seus maridos forem incrédulos.
Visto que em outros lugares encontramos que uma mulher cristã pode ser casar
somente com um homem cristão (1 Coríntios 7:39), Pedro está se dirigindo aqui
àquelas mulheres que se tornaram cristãs após terem se casado com homens nãocristãos.
A parte com respeito à submissão entra em discussão quando o apóstolo diz que os
homens podem ser “ganhos sem palavras”. Isso não significa que uma pessoa pode
trazer outra à fé sem comunicar verbalmente a mensagem do evangelho. É popular
supor hoje em dia que a “ação fala mais alto do que as palavras”, mas isso é contrário
ao ensinamento bíblico.
Desses maridos a quem Pedro exorta as esposas a serem submissas é dito já terem
rejeitado o evangelho comunicado verbalmente, quer por suas esposas ou por
qualquer outra pessoa. Assim, o conteúdo intelectual da fé cristã já tinha sido
transmitido a esses homens, mas eles tinham recusado dar-lhe assentimento. Pedro,
então, está dizendo às esposas que Deus ainda pode usar a “pureza e reverência” delas
como meios pelos quais os maridos delas serão impressionados e convertidos, de
forma que eles possam assentir ao que já tinham ouvido. Portanto, essa passagem
pressupõe a pregação do evangelho, ao invés de negar sua necessidade.
Pedro continua nos versículos 5-6:
Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do
passado, que colocavam sua esperança em Deus. Elas se sujeitavam cada uma
a seu marido, como Sara, que obedecia a Abraão e o chamava senhor. Dela
vocês serão filhas, se praticarem o bem e não derem lugar ao medo.
Como as mulheres tornam a si mesmas bonitas? “Quando Abrão chegou ao Egito,
viram os egípcios que Sarai era uma mulher muito bonita” (Gênesis 12.14) em termos
de aparência. Pedro cita o caso dela como um exemplo de alcançar beleza interior
através da submissão e da obediência. Ser fisicamente atrativa não é suficiente —
Sara se tornou bela porque ela “obedecia a Abraão e o chamava senhor”.
Assim como os cristãos se tornam filhos de Abraão imitando sua fé (Gálatas 3.7), as
mulheres se tornam filhas de Sara imitando a obediência dela ao seu marido. Pedro
não nega a existência de maridos que abusam, mas diz: “Dela vocês serão filhas, se
praticarem o bem e não derem lugar ao medo” (v. 6). O comportamento ímpio de
alguns maridos não serve de desculpa para as esposas não seguirem os preceitos
divinos. A instrução bíblica é para “praticar o bem e não dar lugar ao medo” no
contexto de ser submissa e obediente ao marido, de forma que “se qualquer deles não
crê na palavra, seja ganho sem palavras, pelo comportamento de suas mulheres,
quando eles vêem a pureza e reverência de suas vidas” (v. 1-2).
Nossa próxima passagem é Efésios 5.22-24. Ela diz:
Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é
o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu
corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo,
também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos.
O significado dessa passagem é muito claro, mas muitos comentaristas tentam
subvertê-lo. Por exemplo, o estudioso do Novo Testamento Walter L. Liefeld escreve
o seguinte:
Sujeitar significa abrir mão de seus próprios direitos. Se o relacionamento
exigir isso, como no militarismo, o termo pode conotar obediência, mas esse
significado não é requerido aqui. De fato, a palavra “obedecer” não aparece na
Escritura com respeito a esposas, embora apareça com respeito aos filhos (6.1)
e escravos (6.5). Ele admite que a palavra traduzida como “sujeição” pode significar obediência se a
relação descrita exigi-lo, mas ele diz que a relação matrimonial não exige esse
significado.
Ora, Paulo escreve: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor”, e
“assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo
sujeitas a seus maridos” (v. 24). As esposas devem se sujeitar aos seus maridos como
a igreja deve se sujeitar a Cristo, e Liefeld reivindica que a sujeição das esposas não
inclui obediência. Mas, se isso é verdade, então nem a sujeição da igreja inclui
obediência. Portanto, de acordo com Liefeld, as esposas e a igreja não precisam ser
obedientes aos seus maridos ou a Cristo, mas uma pessoa deve ser obediente aos seus
superiores no militarismo.
Ao invés de supor que a sujeição não inclui obediência, deveríamos permitir que o
ensino bíblico com respeito à autoridade absoluta de Cristo sobre os crentes e a igreja
ditassem o significado da submissão. E visto que os crentes e a igreja devem obedecer
a Cristo em sua submissão a ele, as esposas também devem obedecer aos seus maridos
“em tudo”.
Definir “sujeição” como “abrir mão de seus próprios direitos” é, antes de tudo,
problemático. Visto que a passagem também aplica “sujeição” em nosso
relacionamento com Cristo, essa definição implica que temos direito de desafiar o
Senhor, mas que devemos abrir mão de tal direito. Contudo, visto que outras
passagens bíblicas negam que tenhamos um direito de desafiar a Deus, a definição é
falsa. 23
Essas tolices refletem apenas uma erudição terrível, e produzem implicações
blasfemas. Contudo, os erros de Liefeld não param aqui, visto que sua alegação de
que “a palavra ‘obedecer’ não aparece na Escritura com respeito a esposas” é tanto
enganosa como falsa.
A afirmação é enganosa, visto que, embora a palavra traduzida como “sujeite-se”
(hypotassō) em 5.22 seja uma forma diferente da traduzida como “obedeçam”
(hypakouō) em 6.1 e 6.5, ambas as palavras portam o mesmo sentido de obediência.
Por exemplo, Lucas 2.51 usa a palavra hypotassō, mas dessa vez ela é traduzida
como “obediente”: “Então [Jesus] foi com eles para Nazaré, e era-lhes obediente
[hypotassō].”
Efésios 6.1 usa hypakouō quando ele diz: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor,
pois isso é justo”. Em Efésios 6.2, Paulo pressupõe que o mandamento, “Honra teu
pai e tua mãe”, significa que os filhos devem obedecer aos seus pais. Visto que a
palavra em Lucas 2.51 é hypotassō, Liefeld está insinuando que Jesus meramente se
sujeitou aos seus pais, 24 mas que ele não os obedeceu? Se Jesus obedeceu ao
mandamento, “Honra teu pai e tua mãe”, e esse mandamento equivale a obediência
aos pais, segue-se que Jesus obedeceu seus pais, e que é correto traduzir hypotassō
como “obediente” em Lucas 2.51.
Contudo, a declaração de Liefeld não é apenas enganosa — ela é simplesmente falsa.
Visto que ele afirma que hypotassō é corretamente traduzida como “sujeição” em 5:22
e que hypakouō é corretamente traduzida como “obedecer” em 6.1 e 6.5, sua alegação
de que “a palavra ‘obedecer’ não aparece na Escritura com respeito a esposas”
significaria que hypakouō nunca é usada na Escritura quando se referindo às esposas.
Mas 1 Pedro 3.5-6 aplica a palavra hypakouō à Sara:
Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do
passado, que colocavam sua esperança em Deus. Elas se sujeitavam
[hypotassō] cada uma a seu marido, como Sara, que obedecia [hypakouō] a
Abraão e o chamava senhor. Dela vocês serão filhas, se praticarem o bem e
não derem lugar ao medo. 25
Visto que Sara era a esposa de Abraão, e ela obedeceu [hypakouō) ao seu marido, e
visto que as esposas são ordenadas nessa passagem a imitarem a obediência dela,
segue-se necessariamente que hypakouō está sendo igualmente aplicada a todas
esposas. Essa passagem aplica hypakouō a Sara como uma esposa, e por extensão a
todas esposas. Então, como Liefeld pode afirmar que “a palavra ‘obedecer’ não
aparece na Escritura com respeito a esposas”? Em todo caso, quer hypakouō ou
hypotassō seja usada, a Bíblia ensina que as mulheres devem obedecer seus maridos.
As esposas podem protestar que isso é difícil de cumprir, mas pode-se argumentar que
o dever do marido é até mesmo mais desafiador: “Maridos, ame cada um a sua
mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela” (Efésios 5:25). A
ordem não é para os maridos meramente mostrarem afeição pelas suas esposas, mas a
amá-las até a morte, e cuidarem dela mais do que de sua própria vida e bem-estar. Na
medida que alguém não possua tal amor por sua esposa, ele está sendo inferior a um
homem na acepção bíblica. Nossa estima de um homem nunca deveria ser diferente
do que seu amor por Deus, pela Bíblia e por sua esposa.
Pode ser verdade que é difícil obedecer a muitos homens, mas também é verdade que
muitas mulheres são difíceis de se amar. Contudo, assim como Deus capacita os
homens cristãos a amarem suas esposas como Cristo ama sua igreja, ele capacita
mulheres cristãs a obedecerem a seus maridos como a igreja deve obedecer a Cristo.
Em todo caso, toda pessoa é responsável para com Deus, a despeito do que o outro
[cônjuge] faz, como o apóstolo Pedro afirma (1 Pedro 3:1-7). O fato de um marido
não ser amoroso não serve de escusa à desobediência da esposa, e um marido deve
amar sua esposa a despeito de seus defeitos.
Uma objeção popular à estrutura bíblica de autoridade para a família vem de um
emprego incorreto de Gálatas 3.28, e argumenta que o versículo fala contra todo
gênero de “desigualdade” ou distinções: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre,
homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. Visto que não há “homem
nem mulher” em Cristo, alguns constroem o argumento de que não deveria haver
nenhuma distinção de papel ou diferença em autoridade dentro do relacionamento
matrimonial.
Entretanto, tal não pode ser o intuito do versículo, visto que em outro lugar Paulo
prescreve distinções de função e reconhece diferenças de autoridade entre maridos e
esposas e senhores e escravos, dizendo: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido,
como ao Senhor” e “Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e
temor, com sinceridade de coração, como a Cristo” (Efésios 5.22, 6:5). Portanto,
Gálatas 3.28 não abole todo tido de distinções de gênero, e não contradiz ou anula
aquelas passagens bíblicas que ensinam a liderança masculina da família.
Quando lemos o versículo em seu contexto, torna-se óbvio que ele refere-se apenas à
igualdade de todo indivíduo eleito em seu pronto acesso à justificação pela fé:
Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em
Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego,
escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E,
se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a
promessa (Gálatas 3.26-29).
O versículo não ensina a igualdade social ou de gênero de forma alguma, mas uma
igualdade espiritual ente os eleitos. Todos aqueles a quem Deus escolheu para
receberem a salvação têm acesso igual à justificação através de Cristo pela fé, quer
sejam homens ou mulheres, judeus ou não-judeus, senhores ou escravos. Gênero, raça
e posição social são irrelevantes para o acesso de alguém à salvação mediante Cristo
pela fé, embora somente os eleitos a obterão (Romanos 11.7). O versículo não traz
nenhuma referência à igualdade de gênero em qualquer outra situação, e não tem
nenhuma relevância para distinções de função entre homens e mulheres. 26
Examinamos várias passagens bíblicas que afirmam a liderança masculina no
relacionamento matrimonial, mas há muito mais que afirmam ou fazem supor a
estrutura de autoridade divinamente instituída na família como exposto acima.
Elizabeth Handford escreve: “Se você é intelectualmente honesto, você deve admitir
que é impossível encontrar uma simples abertura, uma simples exceção, um ‘se’ ou ‘a
menos que’. A Escritura diz, sem qualificação... que uma mulher deve obedecer ao
seu marido”. 27 Paulo diz que uma esposa deve obedecer ao seu marido, “a fim de que
a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2.5); uma esposa desobediente traz
vergonha para o reino de Deus.
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