A EXISTÊNCIA DE DEUS

DEUS
Assim como a infalibilidade da Bíblia é o fundamento epistemológico da fé cristã, a
doutrina de Deus é o fundamento metafísico do qual outras doutrinas bíblicas
dependem. Portanto, o cristão deve lutar para alcançar um correto entendimento de
Deus. Este capítulo trata da existência, atributos e obras divinos.

A EXISTÊNCIA DE DEUS

A Bíblia diz que o que vem a
Deus deve crer que ele existe (Hebreus 11.6). É
impossível para alguém que negue a existência de Deus desenvolver um relacionamento
com ele ou conscientemente servi-lo17. Introduzirei duas categorias de argumentos em
favor da existência de Deus. Podemos chamar os de primeiro tipo argumentos teístas
tradicionais ou clássicos, nos quais vários teólogos e filósofos têm se apoiado para
demonstrar a existência dele. Os de segundo tipo consistem de argumentos derivados da
própria Escritura, e assim podemos chamá-los de argumentos bíblicos.
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO advoga a idéia de Deus pela necessidade de sua
existência. Ele é, por definição, o ser além de que nada maior pode ser concebido, e
visto que o ser além de que nada maior pode ser concebido não pode deixar de ter a
própria propriedade de ser, a existência de Deus é forçosamente necessária.
Sucessor de Lanfranc, Anselmo (1033-1109) tornou-se Arcebispo de Canterbury em
1093. O seu Cur Deus Homo e outras obras exerceram profunda influência no
desenvolvimento da teologia cristã. Entretanto, talvez ele seja mais famoso por seu
argumento ontológico como articulado em seu Proslogion. 18 O texto que segue o
reproduz parcialmente:
Cremos então que Tu és algo além do que nada maior pode ser imaginado. Ou
pode ser que algo de uma tal natureza não exista, visto que “diz o Néscio em seu
coração: Não há Deus?” Mas certamente, quando esse mesmo Néscio ouve a
respeito do que estou falando, a saber, “algo-além-do-que-nada-maior-pode-serimaginado”,
ele compreende o que ouve, e o que entende está em sua mente,
mesmo que ele não compreenda que na verdade isso exista...
Mesmo o Néscio, então, é obrigado a concordar que algo-além-do-que-nadamaior-
pode-ser-imaginado existe na mente, visto que ele entende isso quando o
ouve, e tudo o que é compreendido fica na mente. E certamente aquilo-além-doque-
nada-maior-pode-ser-imaginado não pode existir sozinho na mente. Pois se
existisse apenas na mente, não poderia se imaginar que exista também na
realidade, a qual é maior. Se então aquilo-além-do-que-nada-maior-pode-serimaginado
existe na mente apenas, esse mesmo aquilo-além-do-que-nada-maiorpode-
ser-imaginado é aquilo-além-do-que-algo-maior-pode-ser-imaginado. Mas
tal é obviamente impossível. Portanto não há absolutamente nenhuma dúvida de
que algo-além-do-que-nada-maior-ser-imaginado existe tanto na mente quanto
na realidade.
E certamente esse ser tão verdadeiramente existe que não se pode imaginar que
não haja ele. Pois não há como se pensar em algo que pode ser imaginado como
existente e que não exista. Logo, se se pode pensar que aquilo-além-do-quenada-
maior-pode-ser-imaginado não exista, então aquilo-além-do-que-nadamaior-
pode-ser-imaginado não é o mesmo que aquilo-além-do-que-algo-maiorpode-
ser-imaginado, o que é absurdo. Algo-além-do-que-nada-maior-pode-serimaginado
verdadeiramente existe, então, visto que não pode mesmo se pensar
que não exista.
E Tu, Senhor nosso Deus, és esse ser. É tão verdadeiro que Tu existes, Senhor
meu Deus, que não se pode mesmo pensar o contrário... Na verdade, tudo o
mais, exceto Tu somente, pode ser imaginado como não tendo existência. Tu
somente, então, tens a existência mais verdadeira dentre todas as coisas e,
portanto, possui a existência no grau máximo; pois tudo o mais não existe tão
verdadeiramente, e assim existe em grau menor. Por que então “diz o Néscio em
seu coração: Não há Deus”, quando é tão evidente a qualquer mente racional que
Tu, em relação às outras coisas, é o que existe em máximo grau? Por que, de
fato, a menos por ser ele estúpido e louco?
...Ninguém, de fato, compreendendo o que Deus é pode pensar que Ele não
exista, mesmo se pode dizer tais palavras em seu coração, seja sem um
significado ou com algum significado particular. Pois Deus é aquilo-além-doque-
nada-maior-pode-ser-imaginado. Todos o que realmente compreendem isso
entendem claramente que esse mesmo ser é de tal existência que não se pode
imaginar não haver. Assim, todos os que compreendem que Ele existe de uma tal
maneira não pode imaginá-Lo como não existente. 19
A primeira reação de muitos é objetar que só porque um ser pode ser concebido na
mente ou nela existir não significa que deva também existir na realidade. Pode-se
conceber um carro perfeito, mas isso não quer dizer que não haja outro fora de sua
mente. Um cavalo voador é concebível, mas isso nada nos diz quanto a existir
realmente.
Uma tal objeção trai uma incompreensão do argumento ontológico, o qual não afirma
que tudo o que é concebível também tenha existência real, mas que Deus não pode ser
concebido senão como alguém que exista; de outro modo, o que é concebido não pode
ser Deus. Se uma pessoa concebe em sua mente um ser além do qual nada maior pode
ser concebido que não exista, então na verdade ela não está pensando num ser além do
qual nada maior pode ser concebido. Visto que o argumento se refere a um ser além do
qual nada maior pode ser concebido, e não apenas a qualquer objeto concebível pela
mente, a objeção é irrelevante.


Ambigüidade há concernente ao que se quer dizer que algo existe “na realidade”.
Podemos concordar que o que existe na mente não necessariamente existe no mundo
físico, mas isso é novamente irrelevante para o argumento, pois Deus é incorpóreo; ele
não é um ser físico. Ao afirmarmos que uma vez que a idéia de Deus está presente na
mente, ele também deve ser compreendido como existente, não dizemos que tem de ser
entendido como matéria física.
E assim o conceito mesmo de existência acarreta um problema. Em certo sentido, podese
dizer que qualquer coisa existe — até unicórnios, sonhos, e equações matemáticas,
ainda que não como objetos físicos. Entretanto, unicórnios não criaram o universo,
sonhos não predestinaram alguns homens à salvação e outros para a perdição, e
equações matemáticas não se fizeram carne humana para morrer como resgate de
muitos.
Alguns teólogos e filósofos sugerem que, talvez, não devêssemos estar perguntando:
“Deus existe?” Antes, uma questão mais inteligível é: “O que é Deus?” Mesmo Zeus
“existe”, mas apenas na mitologia. O Deus cristão não é um objeto físico, porém,
também não é semelhante a sonhos, equações, ou Zeus. Antes, é ele o criador e o
regente do universo, que decreta nossa história e decide nosso destino, e que merece e
exige nosso culto. Não é um problema dizer que Deus existe conquanto que isso
represente uma afirmação de tudo o que a Bíblia diz sobre ele, e não que ele seja um
objeto físico ou de caráter mitológico.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO raciocina dos efeitos contingentes para a
existência da primeira causa, ou do Deus criador. O argumento pode começar da
autoconsciência ou da existência do universo físico. 20 Tudo que tem um início — tudo
o que vem a ser — é um efeito, e, assim sendo, deve ter uma causa. O universo deve
então ter uma causa se teve um início. O universo de fato tem um início, e, portanto,
deve ter uma causa. Uma regressão infinita de causas é impossível; logo, deve haver
uma causa primeira que não teve começo algum, mas que é necessária e eterna. Tal ser
reconhecemos ser Deus. Discutiremos agora as premissas.
Começamos afirmando a autoconsciência ou a existência do universo. É refutar a si
mesmo duvidar da própria existência, visto que se deve primeiro existir antes que se
possa negar sua própria auto-existência. Quem não existe não pode afirmar a proposição
“não existo”. Também, uma pessoa que negue sua própria existência retira-se do debate,
logo não oferece ameaça nenhuma ao argumento cosmológico. Uma vez que
estabelecemos a proposição “eu existo”, ou “o universo existe”, pode-se iniciar o
argumento.
Seres e eventos contingentes não-causados são impossíveis, visto que coisa alguma
pode sair do nada. Visto que nada não é coisa alguma, essa não pode produzir nada.
Somente um ser que não tenha início algum pode ser não-causado. Nem sequer é
possível haver seres e eventos não-causados. Uma causa deve anteceder a um efeito —
ao menos logicamente, caso não cronologicamente. Assim, a causa existe antes de seu
efeito. Se um ser ou evento já existe, então ele não causa sua própria existência, visto
que já existe. Esse ser ou evento deve então, ou ser não-causado, ou produzido por uma
causa anterior.


Ainda que uma progressão infinita de causas seja possível, uma regressão infinita não o
é. Uma progressão infinita pode ocorrer desde que a causa possa continuar a levar a
novos efeitos, e é logicamente possível que tal processo jamais terminará. Entretanto, se
temos de pressupor uma regressão infinita de causas, então é impossível a nós
alcançarmos o presente, visto que não é possível viajar através de um infinito real.
Assim como é impossível alcançar o fim de uma progressão infinita, nosso presente é
um “fim” quando visto do passado. Qualquer momento em particular é um “fim” ou
ponto de parada quando visto do passado, de modo que se o passado é infinito, nunca
teríamos alcançado o presente; de outro modo, o passado não seria infinito, mas finito.
Por exemplo, se alguém fosse começar a contagem à meia-noite de segunda-feira e
decidisse que devesse interrompê-la na sexta-feira, ele atingiria o ponto de parada
quando o tempo chegasse. Mas se há tempo infinito entre seus pontos de começo e de
parada, então ele nunca atingiria esse último. Da mesma maneira, se um homem corre
em direção a uma linha de chegada — um “final” análogo ao nosso presente — ele
nunca alcançaria-o se houvesse uma distância infinita entre os pontos inicial e de
parada; de outro modo, a distância entre os dois pontos não seria infinita, mas finita.
Logo, uma regressão infinita de causas passadas para o universo é impossível, visto que,
se o passado é infinito, nunca teríamos atingido o presente; de outra forma, o passado
não seria infinito, mas finito. Por outro lado, se o universo tem um ponto inicial no
passado finito, então seria possível chegar ao presente. Porém, se o universo tem um
ponto de partida, então deve haver uma causa. Alguns contestam: “Por que essa causa
tem que ser Deus?” Essa é uma tola objeção, visto que Deus é apenas o nome ou título
da primeira causa. O argumento mostra que deve haver um criador que fez o universo.
Tomás de Aquino (1224-1274) é mais bem conhecido por suas “Cinco Vias” de
demonstração da existência de Deus21. Reproduziremos aqui somente a segunda e a
terceira de sua Summa Theologica:
A segunda via é a da natureza da causa eficiente. No mundo do sentido
descobrimos que há uma ordem de causas eficientes. Não há nenhum caso
conhecido (nem é ele, de fato, possível) em que uma coisa foi achada como
sendo a causa eficiente de si mesma, pois assim seria ela anterior a si mesma, o
que é impossível. Ora, em causas eficientes não é possível prosseguir até o
infinito, porque em todas as causas eficientes seguindo-se em ordem, a primeira
é a causa da causa intermediária, e a intermediária é a causa da última causa,
sejam várias as causas intermediárias, ou uma apenas. Ora, tirar a causa é tirar o
efeito. Por conseguinte, se não há primeira causa alguma entre as causas
eficientes, não haverá nenhuma última, nem qualquer causa intermediária. Mas
se em causas eficientes é possível prosseguir ao infinito, não haverá nenhuma
primeira causa eficiente, nem um efeito final, nem quaisquer causas eficientes
intermediárias; tudo isso é claramente falso. Portanto, é necessário admitir uma
primeira causa eficiente, à qual todos dão o nome de Deus.
A terceira via é tomada da possibilidade e necessidade, e se dá assim.
Encontramos na natureza coisas que são possíveis que sejam e que não sejam,
visto que são achadas para serem geradas, e corromperem-se, e
conseqüentemente, são possíveis de serem e de não serem. Mas é impossível
para as tais sempre existirem, pois aquilo que é possível não ser em algum tempo
não é. Logo, se tudo é possível de não ser, então em algum tempo não poderia
haver nada existindo. Ora, se tal fosse verdade, agora mesmo não haveria nada
em existência, porque aquilo que não existe somente começa a existir por
alguma coisa já existente. Por conseguinte, se em algum tempo nada esteve em
existência, teria sido impossível para alguma coisa ter começado a existir; e,
desse modo, precisamente agora nada estaria em existência — o que é absurdo.
Portanto, todos os seres não são meramente possíveis, mas deve haver alguma
coisa para a qual a existência seja necessária. Porém, toda coisa necessária ou
tem sua necessidade causada por uma outra, ou não. Ora, é impossível
prosseguir infinitamente em coisas necessárias que têm sua necessidade causada
por uma outra, como já foi provado com respeito às causas eficientes. Logo, não
podemos senão postular a existência de algum ser tendo de si mesmo sua própria
necessidade, e não a recebendo de outro, mas antes causando em outros suas
necessidades. Todos os homens falam disso como sendo Deus. 22
Alguns tentaram recentemente defender um universo não causado ou eterno baseado na
teoria quântica, mas tais argumentos, quando muito, só fazem empurrar a questão um
passo para trás, de modo que a existência do universo ainda requer uma explicação, ou
uma causa. Nenhum deles prova ser o universo não causado ou eterno, ou que alguma
coisa possa sair do nada. Além disso, há fortes discordâncias entre os cientistas quanto
às implicações da teoria quântica, e argumentos desse tipo freqüentemente fazem mau
uso das especulações científicas.
Se a causa imediata do universo mesmo requer uma causa, então ainda não chegamos à
primeira causa. Deve haver uma causa para explicar toda causa que é também um efeito,
mas regredir infinitamente é impossível, assim deve haver uma causa primeira não
causada que seja eterna, que tenha sempre existido, e que criou o tempo por si mesma.
Visto que nenhum efeito pode ser não causado, essa primeira causa não tem começo
algum, e desse modo não é um efeito.
Tal argumento é invulnerável à provocação: “Se tudo tem uma causa, então Deus
também deve ter uma causa”. Essa típica objeção trai uma falta de atenção, visto que o
argumento declara somente que todo efeito, ou tudo que vem a ser, deve ter uma causa.
Mas o argumento demonstra que Deus não é um efeito, mas é a primeira causa não
causada.

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