A CLAREZA DA ESCRITURA
Há dois extremos, com respeito à clareza da Escritura, que os cristãos devem evitar.
Um, é sustentar que o significado da Escritura é totalmente obscuro à pessoa comum —
que somente uma elite e um grupo de indivíduos escolhidos podem interpretá-la. Outro,
é a opinião que alega que a Escritura é tão clara que não há parte alguma dela que seja
difícil de ser entendida, e que nenhum treinamento em hermenêutica é requerido para
manusear o texto. Por extensão, a interpretação de um teólogo maduro não é mais
confiável do que a opinião de uma pessoa despreparada.
A primeira posição isola o uso da Escritura do povão em geral, e impede qualquer
pessoa de contestar o entendimento bíblico de profissionais estabelecidos, mesmo
quando eles estão enganados.
A segunda também é perigosa. A Bíblia não é tão fácil de compreender que qualquer
pessoa possa interpretá-la com igual competência. Mesmo o apóstolo Pedro, quando se
referindo ao escritos de Paulo, diz que “suas cartas contêm algumas coisas que são
difíceis de entender”. Ele adverte que “as pessoas ignorantes e instáveis distorcem” o
significado das palavras de Paulo, “assim como eles fazem com outras Escrituras, para a
sua própria destruição” (2 Pedro 3.16).
Muitos gostariam de julgar a si mesmos competentes em assuntos importantes tais como
teologia e hermenêutica mas, ao invés de orarem por sabedoria e estudarem as
Escrituras, supõem serem tão capazes quanto os teólogos ou os seus próprios pastores.
Tal modo de pensar é um convite ao desastre e à confusão. Diligência, treinamento e
capacitação divina, tudo isso contribui para a capacidade de alguém interpretar e aplicar
a Bíblia.
Embora muitas passagens na Bíblia sejam fáceis de entender, algumas delas requerem
diligência extra e sabedoria especial para serem interpretadas acuradamente. É possível
para uma pessoa ler a Escritura e adquirir dela entendimento e conhecimento suficientes
para salvação, embora algumas vezes alguém possa precisar de um crente instruído até
para isso:
“E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês?
E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe
que subisse e com ele se assentasse” (Atos 8:30-31).
É possível também aprender os dogmas básicos da fé cristã, simplesmente lendo a
Bíblia. Mas há passagens ali que são, em diferentes graus, difíceis de entender. Nesses
casos, alguém pode solicitar o auxílio de ministros e teólogos para as explicarem, de
forma a evitar a distorção da palavra de Deus.
Neemias 8:8 afirma o lugar do ministério de pregação: “E leram no livro, na lei de
Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse”. Contudo,
a autoridade final repousa nas palavras da Escritura mesma, e não na interpretação dos
eruditos. Ela nunca está errada, embora nosso entendimento e inferências dela extraídos
possam estar, algumas vezes, equivocados. Este é o motivo pelo qual toda igreja deveria
preparar seus membros na teologia, na hermenêutica e na lógica, de forma que eles
possam manusear melhor a palavra da verdade.
Portanto, embora a doutrina da clareza da Escritura conceda a cada pessoa o direito de
ler e interpretar a Bíblia, ela não elimina a necessidade de mestres na igreja mas, antes,
afirma a sua necessidade. Paulo escreve que um dos ofícios ministeriais que Deus
estabeleceu foi o de mestre, e que ele apontou indivíduos para desempenhar tal função
(1 Coríntios 12.28). Mas Tiago adverte que nem todos deveriam ansiar assumir tal
ofício: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais
duro juízo” (Tiago 3:1). Em outro lugar, Paulo escreve, “Digo a cada um dentre vós que
não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação...” (Romanos
12:3).
Aqueles escolhidos por Deus para serem ministros da doutrina são capazes de
interpretar as passagens mais difíceis da Escritura, e podem também extrair valiosos
insights que podem evitar outras dificuldades das passagens mais simples também.
Efésios 4:7-13 se refere a tal ofício como um dos dons de Cristo à sua igreja e,
conseqüentemente, os cristãos devem valorizar e respeitar aqueles que estão em tal
ministério.
Vivemos numa geração na qual pessoas desprezam a autoridade; elas detestam ouvir o
que devem fazer ou crer. 13 A maioria nem mesmo respeita a autoridade bíblica, para
não citar a autoridade eclesiástica. Elas consideram as suas opiniões tão boas quanto as
dos apóstolos, ou, no mínimo, dos teólogos e pastores; sua religião é democrática, não
autoritária. Mas a Escritura ordena os crentes a obedecerem aos seus líderes: “Obedecei
a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles
que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso
não vos seria útil” (Hebreus 13.17). Todo crente tem o direito de ler a Bíblia por si
mesmo, mas isto não deve se traduzir em desafio ilegítimo 14 contra os sábios ensinos de
eruditos ou contra a autoridade dos líderes da igreja.
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